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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Brinquedos de miriti de Abaetetuba

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Ágeis mãos cortam, lixam, montam e pintam o miriti. As oficinas dos artesãos de Abaetetuba estão a pleno vapor. Até o final deste mês, têm que entregar uma encomenda de cerca de mil peças para a escola de samba carioca Unidos da Viradouro, cujo tema é o Círio de Nazaré.

Girândolas, barcos e casas feitos de miriti farão parte da fantasia dos passistas. Os organizadores da escola entraram em contato com o vice-presidente da Associação dos Artesãos de Brinquedos e Artesanatos de Miriti de Abaetetuba (Asamab), Amadeu Sarjes, durante o Círio de 2003. "Eles perceberam que o nosso artesanato é um dos principais símbolos da festa de Nossa Senhora de Nazaré", contou orgulhoso. Para abrir o desfile da escola, a comissão de frente preparou uma coreografia representando os "girandeiros" - homens que carregam uma espécie de cruz, também feita de miriti, na qual penduram cerca de 40 brinquedos e andam pelas ruas de Belém vendendo o artesanato durante o Círio.

Serão vinte homens carregando suas girândolas. Outra ala será composta pelos promesseiros. Os passistas carregarão 50 casas e 50 barcos de miriti para representar as pessoas que pagam suas promessas pelas graças alcançadas. O trabalho foi dividido entre os membros da Asamab, que só têm o que comemorar. Além do pagamento pelo trabalho, R$ 10 mil, o artesanato de Abaetetuba ganhará grande visibilidade e provavelmente o número de encomendas irá crescer.

"Pediu para Pará, parou! Com a Viradouro eu vou pro Círio de Nazaré", dos compositores Dário Marciano, Aderbal Moreira e Nilo Mendes, é o samba-enredo 2004 da escola, que irá reviver na avenida o samba "Festa do Círio de Nazaré", de 1975, da Unidos de São Carlos, hoje Estácio de Sá.

A idéia surgiu quando a Liga Independente das Escolas de Samba, para comemorar 20 anos de sua criação, sugeriu que suas filiadas desfilassem cantando sambas do carnaval carioca anteriores à sua criação, em 1984. Como a Viradouro só passou a desfilar no grupo especial em 1991, o presidente José Carlos Bessil escolheu um samba de outra agremiação e resolveu homenagear uma das maiores procissões religiosas do Brasil.

Tradição é passada de pai para filho

Ninguém sabe ao certo a origem do brinquedo de miriti. Os artesãos mais antigos contam que os índios foram os primeiros a produzir os brinquedos. A técnica foi ensinada aos ribeirinhos e chegou até hoje porque é passada de pai para filho. As crianças faziam seus próprios brinquedos, geralmente barquinhos, para brincar nos igarapés.

"Até hoje, de todos os brinquedos que faço, prefiro os barcos. Quando eu era pequeno, fazia barquinhos, amarrava numa canoa e via o barco correndo", lembra o artesão Célio Ferreira, mais conhecido como Segica.

Cada artesão cria seus próprios brinquedos. Além dos tradicionais barco, cobra, canoa, serrador, pila-pila, come-come, são feitas árvores de natal, móbiles, dançarinos e patos na cesta. Estes dois últimos são especialidades de Nina Abreu.

Mais conhecida como a rainha do folclore, dona Nina faz artesanato desde os 12 anos. Hoje, com 68, fala animada sobre suas novas criações. "Ano passado, eu fiz uma procissão do Círio", mostra o brinquedo e pergunta: "Olha só, não ficou bonito?".

Aposentada como vendedora de mingau, atualmente dona Nina se dedica totalmente ao artesanato e ensina sua arte para crianças da cidade. Criou um centro cultural e ensina a fazer, além de brinquedos de miriti, crochê, pintura e outros tipos de artesanato.

Anda-se por alguns quarteirões e chega-se à oficina de Amadeu Sarjes, onde cerca de 12 homens trabalham na produção de barcos para o desfile. Amadeu atribui o dom do artesanato a Nossa Senhora. Há 23 anos fez um pedido à santa para aprender a trabalhar com miriti. Comprou alguns brinquedos e passou a montá-los e desmontá-los. No ano seguinte, era mais um dos artesãos que levavam seu material para vender durante o círio.

Hoje em dia, Amadeu vende cerca de 2.500 brinquedos durante as festividades de Nazaré e mantém uma imagem da santa em seu ateliê. Ele fez o contato com a escola de samba e está muito contente com essa oportunidade. "É um grande prazer ver nossa arte de Abaetetuba no carnaval. Todo mundo do Brasil e também do exterior vai poder ver o que fazemos", comemora.

"Sempre gostei de trabalhar com artesanato. Não pega sol, nem chuva, não faz força. É uma terapia. Tu te divertes trabalhando", é assim que Josias Silva, o Pirias, define o prazer do seu ofício.

Especialista em móbiles, Pirias produziu para a Natura, em 2003, uma árvore de natal em miriti. A empresa de cosméticos utilizou seu artesanato como elemento principal na propaganda natalina do ano passado.
Na oficina de Pirias trabalham quatro de seus irmãos. Rita de Cássia, de 9 anos, ajuda o irmão lixando os pedaços de madeira. "É legal ficar aqui, mas quando a aula começar só vou poder ficar de tarde", lamenta a pequena aprendiz.

Passando por ripas de madeira e um tapete de caroços de açaí, que servem como aterro, chega-se à oficina de Raimundo Peixoto, o Diabinho - uma palafita construída sobre o alagado, por causa do igarapé que corta o terreno de sua casa. É lá que cerca de 10 membros da família de Diabinho trabalham sobre seu comando. Ele aprendeu o artesanato com os parentes da esposa, hoje preside a Asamab. "Desde que a gente criou a associação e ganhou o apoio do Sebrae, conseguimos muito mais encomendas", contou Diabinho.

Sebrae estimula primor pela qualidade

Desde o primeiro Círio, em 1793, os brinquedos de miriti fazem parte da celebração. Durante a primeira festividade de Nazaré, aconteceu a Feira de Produtos Regionais da Lavoura e da Indústria. Para esta feira, cada vila ou cidade do interior enviou produtos como cacau, pirarucu salgado, mandioca, guaraná, cerâmica e redes de pesca. Os moradores de Abaetetuba levaram seus brinquedos de miriti.

A cada ano, os brinquedos se tornavam mais conhecidos e mais artesãos vinham para Belém vender seus produtos. No último círio, cerca de mil peças foram vendidas na Praça da Sé, na tenda do Carmo e pelos vendedores ambulantes com suas girândolas. Todo ano, a prefeitura cede um kit com tintas e pincéis para os artesãos e disponibiliza um ônibus para transportar as famílias para Belém durante as festividades.

Mas a produção de miriti não se restringe ao período do círio. Desde a formação da Asamab, que conta 54 membros, os artesãos participam de feiras em outros estados e fazem parcerias. Um grande parceiro é o Sebrae de Abaetetuba. Além de contribuir para o aperfeiçoamento dos artesãos, faz um trabalho de conscientização ecológica, para que as árvores de miriti não sejam devastadas.

A parceria que começou em 2000 já deu bons resultados. Cerca de cem artesãos já participaram dos cursos de capacitação, promovidos pelo Sebrae. Segundo a responsável pelo Centro de Resultado de Artesanato de Abaetetuba, Elisa Ikeda, a mudança no trabalho dos artesãos depois do curso de design é notável. "De dois anos para cá as peças têm tido um acabamento melhor, as cores usadas são mais harmônicas", conta Elisa.

Através de um acordo com a Funarte, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, os artesãos de Abaetetuba participam do Projeto Artesanato Solidário. O programa atua em 57 localidades do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Os brinquedos de miriti e as cuias de Santarém representam o Pará. O Programa organizou, em junho de 2002, a exposição "Brinquedos que vêm do Norte", no Rio de Janeiro. Em dois dias de exposição, 11 artesãos venderam 8 mil peças.

Os artesãos já levaram a arte de Abaetetuba para feiras em vários lugares do Brasil: Paraíba, Minas Gerais, São Paulo, além de possuírem uma exposição permanente no Museu Emílio Goeldi. "É muito bom ver este resultado. Estamos levando para fora a realidade da comunidade de Abaetetuba, representada no artesanato", comemora a funcionária do Sebrae.

Elisa Ikeda está, com a Asamab, negociando um contrato com um grupo de italianos. Representantes do Comércio Justo estão com um catálogo dos brinquedos produzidos em Abaetetuba e, se fechado o acordo, revenderão o artesanato em países da Europa. Elisa está confiante. "Eles gostaram dos nossos brinquedos porque prezam por artesanatos ecologicamente corretos", conta.

"Abençoada árvore do miriti"

Achual, aguaje, buriti, palmeira-do-brejo, palmeira-buriti, pibâche são nomes populares da planta Mauritia flexuosa L., a palmeira de miriti utilizada no artesanato de Abaetetuba. Mas a planta, chamada pelos moradores da cidade de "abençoada árvore de miriti", tem várias outras utilidades.

A folha pode ser usada na produção de redes. "Eles tiram o grelo da folha, aquela folha que vem nascendo. Deixam secar e fazem envira. Essa envira tece as cordas para a rede", conta a artesã Nina Abreu. Da fruta, faz-se doce e mingau, base da alimentação dos ribeirinhos da região. Com a tala, espécie de casco do tronco, fazem-se paneiros e cestos. Os talos, braços da folha verde, são o material utilizado pelos artesãos para fazer os brinquedos.

Após o tratamento dos talos, com cerca de três metros de comprimento cada, os artesãos compram feixes com cem unidades por 10 reais. A partir deste momento, é a criatividade de cada um que vai transformar estes pedaços de madeira em coloridos barcos, cobras, girandeiros, móbiles e pássaros.

(Cláudia Macedo - Fonte Diário do Pará)

2 comentários:

  1. gostei muito do que falaram nesse site!
    não desistam, esse é o camino certo!!!

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  2. Olá, meu nome é Camila. No fim do mês a escola onde leciono vai estar fazendo uma Festa Paraense onde haverá 2 momentos : um dia de feira da cultura paraense e um dia de apresentações. No entanto minha turma de jardim II ficou responsavel pelo Artesanato e gostaria de Saber de algum local onde possamos conseguir brinquedos de miriti ( com preços razoaveis para esposição e possiveis brines)...

    Professora Camila
    Sistema de Ensino Futuro
    Ananindeua - Coqueiro.

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